"Era segunda-feira, a primeira depois da morte de Ângelo. Seria o primeiro banho, o primeiro café o primeiro dia de trabalho sem a companhia dele. Ainda sinto falta de acordar e ver que ele estava de pé, ainda com o rosto marcado pelos lençóis.
Na próxima semana, completariamos um ano de casados, mas a fria e torturante guerra o levou para longe de mim. Quando recebi a carta emitida pelas Forças Armadas, não me contive e tentei me matar. Abri o chuveiro, deitei na banheira...
Estava com um longo vestido vermelho com que Ângelo havia me presenteado e deixei a água, fria, pouco a pouco, cobrir-me... Já não sentia mais vontade de viver! Seu rosto, cada vez mais embaçado pela água fria, parecia me perseguir. Pensei que, talvez, morrendo ele voltaria para mim. Mas fui covarde e não consegui. Levantei-me debulhada num choro ofegante e, toda molhada, joguei-me no sofá, mas não consegui sequer dormir.
Uma noite inteira de desepero se passou e o amor que eu sentia não morria junto com ele. Arrumei minhas coisas e saí de casa como se quisesse fugir das lembranças e do amor que eu guardava. Fui à praia, ao mercado, sentei-me À beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, e nada!
Hoje, ainda não sei quem sou e quem amo. Só sei que vivo a me perguntar se dentro de mim ainda há lugar para amar..."
Daiane Guedes
Obs: Escrevi esse texto há três anos atrás e ontem o encontrei. Resolvi postar algumas coisas que estavam , literalmente, guardadas.