sábado, 26 de junho de 2010

A caixa.

Ao abrir a caixa nos deparamos com o tudo e o nada. Uma caixa, alguns elementos e nenhuma conexão. Dar vida aquilo, naquele momento, seria atravessar aquela simples caixa de papel com histórias, conceitos, experiências e construir algo novo, algo que expressasse a potência daquele momento. Era tudo tão simples e ao mesmo tempo tão complexo que resolvemos fazer a nós mesmos. Um indivíduo que expressasse aos olhos de todos, de forma clara, caricata, como somos compostos, de que realmente somos feitos.
Sua cabeça composta de muitas outras evidenciava as inúmeras vozes, a polifonia como cita Bakhtin, que nós ouvimos, respondemos e assim, compomos o nosso discurso. Seu corpo, um texto. Um livro que nenhum saber deixou de escrever; um corpo atravessado pela medicina, pela moda, pela mídia, pela própria psicologia. Um corpo materialmente unificado, mas pelos discursos inteiramente repartido.
Sua boca, a parte mais surpreendente, uma pilha. Ou o que podemos de maneira mais complexa chamar de potência de vida, de criação. Um corpo que não é somente linha dura, instituído, ditadura! é um corpo que faz emergir linha de fuga, produz coisas novas. É um corpo que assim como a pilha pode fazer acender luzes e dar visibilidade aquilo que por muitas vezes passa despercebido, vira mera paisagem esquecida.
E, por fim, esse individuo meio corpo, meio mercado, meio homem, meio objeto, meio produto, meio potência encontra-se preso, tal como marionete, a uma lógica capitalística que não cessa em agregar as novas descobertas em seu corpo. Uma marionete enganada com uma falsa ideia de liberdade que lhe acomete toda vez que sobe no palco da vida.

Daiane Guedes

Obs: Produzi esse texto como devolução de uma aula/vivência de Psicologia Social II