Quando seremos suficientemente bons?!
Se alguém fala demais é tagarela, ruim em guardar segredos.
Se alguém fala de menos, é tímido, não serve para lidar com pessoas.
Se alguém é baixo demais, não é capaz nem de trocar uma lâmpada.
Se alguém é alto demais se sobressai tanto que assusta os outros.
Se alguém ri muito, é uma pessoa que não leva nada a sério, nem ele mesmo.
Se alguém chora muito, está se fazendo de coitado.
Se alguém não ri, é antipático e não merece o seu sorriso.
Se alguém fala algo muito inteligente, está sendo pedante.
Se alguém faz um comentário bobo, não deveria nem ter entrado na conversa...
A questão está nesse alguém ou em nós? A questão está no quadro ou no olhar? Somos quão estranhos também? Em que momento eu ocupo o seu lugar e em que momento você ocupa o meu?
O olho que eu vejo, é o olho que me vê. O corpo que a minha palavra toca, devolve-me o toque. Não somos exteriores ao mundo, muito menos às pessoas.
Quando damos rótulos a alguém, inversamente, recebemos rótulos... Somos os chatos que vivem a colar post-its no outro.
Por que temos que ser suficientemente bons a alguém e por que alguém tem que ser suficientemente bom para nós???
Prefiro que você seja em mim o que não tenho, o que me desperta fúria e desejo, amor e insatisfação; prefiro que seja o paradoxo em minha vida que ser um simples fator que legitima minhas vontades mais banais. Deixa eu ser o que em você ainda não foi acordado.
Não quero mais azul no azul, quero o vermelho.
Vamos compor, como uma música em que, em cada tempo, entra um instrumento, sem ensaio, sem repetição, sem medo, sem pausa. Vamos jogar com o inesperado, sem a cobrança de ser o que não sou e sem o julgamento por ser o que sou. Vamos alternar, vamos alternar entre o eu e você. Até que no meio dessa dança eu não possa mais sentir o que sou eu, quem é você.
Daiane Guedes